terça-feira, 16 de junho de 2020

Mulher, Produção Científica e Isolamento Social - Filosofia em Tempos de Pandemia no Instagram


Em contexto de pandemia da COVID-19, na qual as Políticas Públicas de Saúde pautam novas diretrizes de sociabilidade, a quarentena e o isolamento social se apresentaram como recursos cientificamente demostrados para basear as atitudes de saúde coletiva. Assim, impossibilitadas as atividades presenciais, o trabalho remoto – e com ele suas implicações – fez-se como práxis laboral necessária. .
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Apesar dos discursos de normalidade imperativa proferidos por alguns autores políticos, o “manter-se em casa” trousse consigo o aumento em proporção de algumas patologias sociais outrora existentes. Dentre essas, aqui destacamos a desproporção de gênero nas submissões de produções científicas e acadêmicas durante a pandemia: enquanto a produtividade feminina decai, homens têm enviado até 50% a mais do que o usual. .
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Como podemos localizar, filosoficamente, a causa do problema supracitado?
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Com uma nova compreensão acerca da origem biológica dos papéis sociais de gênero, Simone de Beauvoir reafirma o processo histórico construtor da divisão sexual do trabalho, que age de forma a vincular a figura feminina às dimensões privadas. Nesse contexto, tal vinculação é lavada às últimas consequências, à medida que o pragmatismo da vida moral burguesa estrutura o ato de cuidado como exclusivo e extensivo à natureza feminina. Tendo em vista a referida expressão fronteiriça do trabalho e seu recorte de gênero, Pierre Bourdieu (1995) aponta: "[...] com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a fronteira deslocou-se sem se anular", formulando a dupla jornada de trabalho.
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Com o estabelecimento das formas de isolamento social, a maternagem (definida por Elisabeth Badinter como a capacidade do cuidado – tida socialmente como arquétipo de responsabilidade feminina) é exigida simultaneamente às atribuições e às metas laborais, com difícil delimitação de tempo para tais atividades, de maneira a reduzir e inibir possibilidades de produção cientifica e desenvolvimento de projetos. Em paralelo, o homem tende a se beneficiar das facilidades do home office (relativas aos privilégios de seu gênero), amplificando sua produtividade.

Referências bibliográficas:
BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Tradução: Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, v. 2, 1980.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 133-184, jul./dez. 1995.
KITCHENER, Caroline. Women academics seem to be submitting fewer papers during coronavirus. ‘Never seen anything like it,’ says one editor. The Lily, 2020. Disponível em: < https://t.co/8CgUqw5R9R>

Produção (Imagem e Texto) de Nícolas Gustavo - Coordenação Colegiada Filosofia em Tempos de Pandemia

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