segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Breve Glossário para a Filosofia Polítca


Alguns termos e expressões do vocabulário político grego:

Ágora: lugar de reunião; praça pública; espaço onde aconteciam assembleias populares. Em Atenas
era também o espaço onde estavam localizadas as instituições políticas.

Aristocracia: governo dos melhores, dos excelentes (aristoi).

Demos: o povo; mais tarde recebe o sentido do conjunto dos cidadãos. Originalmente significava os
territórios habitados pelos pobres.

Democracia: regime no qual o poder pertence ao povo (demos).

Dokimasia: espécie de exame ao qual eram submetidos os pleiteantes a cargos e encargos públicos,
que consistia em verificar, não as competências técnicas, mas as virtudes cívicas do candidato.

Ekklesia: assembléia popular.

Isègoria: igualdade de direito à palavra pública, à palavra política; direito de falar nas assembleias.

Isonomia: igualdade de direitos perante a lei.

Koinonia tôn politon: comunidade de cidadãos.

Meteco: estrangeiro residente.

Monarquia: governo de um só (monas).

Oligarquia: regime no qual a soberania pertence a alguns (oligos) grupos.

Pólis: cidade; comunidade política.

Politeia: regime de governo; as instituições públicas.

Ta politika: política.

Zoon politikon: expressão utilizada por Aristóteles, que define o homem como animal político.

Fontes: Diversos, em especial, a obra Filosofia de vários autores publicada pela SEED-PR em 2006.

O Ideal Político


O ideal político se caracteriza pela existência de uma comunidade e pela construção e manutenção de uma unidade desta comunidade, sem que para isso ela precise submeter-se a um poder externo (do tipo: “eles” são o poder; eles fazem as leis que nós devemos obedecer). Não se trata, contudo, de uma defesa da anarquia. É importante registrar que não é possível a vida em comum sem que haja regras e sanções muito claras. Logo, uma comunidade política ideal deve estabelecer suas finalidades, suas regras, suas prioridades, enfim, deve autogovernar-se (nós somos o poder; nós fazemos as leis que normatizam a vida na comunidade e isso constitui a nossa liberdade). No entanto, a história testemunha o quão difícil é a consecução desse ideal do político.
O Pensador Wolff (2003) defende a tese de que apenas duas sociedades conseguiram realizar o ideal político, que é a unidade da comunidade política, sem coerção externa. Quais foram essas sociedades? Essas sociedades foram, os atenienses da Antiguidade e os índios do Brasil, de antes da descoberta:


Se houvesse uma comunidade que, em lugar de manter-se por meio de um poder distinto dela mesma (uma instância organizada para esse fim, um chefe todo-poderoso, um grupo dirigente, uma classe dominante, um Estado), se conservasse em sua unidade apenas por sua própria potência, uma sociedade na qual o poder político só pudesse ser localizado na comunidade política em seu conjunto, poderíamos dizer dessa sociedade que ela realizou a ideia do político.
(WOLFF, 2003, p.31)



Política e Poder



Discutir política é referir -se ao poder. Embora haja inúmeras definições e interpretações a respeito do conceito de poder, vamos considerá -lo aqui, genericamente, como sendo a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivíduos ou grupos humanos. Portanto, o
poder supõe dois pólos  o de quem exerce o poder e o daquele sobre o qual o poder é exercido. Portanto, o poder é uma relação, ou um conjunto de relações pelas quais indivíduos ou grupos interferem na atividade de outros indivíduos ou grupos.

Poder e Força

Para que alguém exerça o poder, é preciso que tenha força, entendida como instrumento para o exercício do poder. Quando falamos em força, é comum pensar-se imediatamente em força física, coerção, violência. Na verdade, este é apenas um dos tipos de força.
Diz Gérard Lebrun: "Se, numa democracia, um partido tem peso político, é porque tem força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um sindicato tem peso político, é porque tem força para deflagrar uma greve. Assim,força não significa necessariamente a posse de meios violentos de coerção, mas de meios que me permitam influir no comportamento de outra pessoa. A força não é sempre (ou melhor, é rarissimamente) um revólver apontado para alguém; pode ser o charme de um ser
amado, quando me extorque alguma decisão (uma relação amorosa é, antes de mais nada, uma relação de forças. Em suma, a força é a canalização da potência, é a sua determinação.

Estado e poder

Entre tantas formas de força e poder, as que nos interessam aqui referem -se à política e, em especial, ao poder do Estado que, desde os tempos modernos, se configura como a instância por excelência do exercício do poder político. Na Idade Média certas atribuições podiam ser exercidas pelos nobres em seus respectivos territórios, onde muitas vezes eram mais poderosos do que o próprio rei. Além disso, era difícil, por exemplo, determinar qual a última instância de uma decisão, daí os recursos serem dirigidos sem ordem hierárquica tanto a reis e parlamentos como a papas, concílios ou imperadores.
A partir da Idade Moderna, com a formação das monarquias nacionais, o Estado se fortalece e passa a significar a posse de um território em que o comando sobre seus habitantes é feito a partir da centralização cada vez maior do poder. Apenas o Estado se torna apto para fazer e aplicar as leis,  recolher impostos, ter um exército. A monopolização dos serviços essenciais para garantia da ordem interna e externa exige o desenvolvimento do aparato administrativo fundado em uma burocracia controladora. Por isso, segundo Max Weber, o Estado moderno pode ser reconhecido por dois elementos constitutivos: a presença do aparato administrativo para prestação de serviços públicos e o monopólio legítimo da força.

O poder legítimo

Embora a força física seja uma condição necessária e exclusiva do Estado para o funcionamento da ordem na sociedade, não é condição suficiente para a manutenção do poder. Em outras palavras, o poder do Estado que apenas se sustenta na força não pode durar. Para tanto, ele precisa ser legítimo, ou seja, ter o consentimento daqueles que obedecem. 
Ao longo da história humana foram adotados os mais diversos princípios de legitimidade de poder: nos Estados teocráticos, o poder considerado legítimo vem da vontade de Deus; ou da força da tradição, quando o poder é transmitido de geração em geração, como nas monarquias hereditárias; nos governos aristocráticos apenas os melhores podem ter funções de mando; é bom lembrar que os considerados melhores variam conforme o tipo de aristocracia: os mais ricos, ou os mais fortes, ou os de linhagem nobre, ou, até, a elite do saber; na democracia, vem do consenso, da vontade do povo.
A discussão a respeito da legitimidade do poder é importante na medida em que está ligada à questão de que a obediência é devida apenas ao comando do poder legítimo, segundo o qual a obediência é voluntária, e portanto livre. Caso contrário, surge o direito à resistência, que leva à turbulência
social. 

(Texto de Filosofando de Maria Lucia Aranha)

Para Refletir


A política pode superar a sua imagem negativa
de poder de opressão e corrupção e ser
concebida como uma possibilidade de construção
de um mundo melhor? 

O ideal político de bem comum já se realizou algum dia, na materialidade
das relações sociais, para além do mundo
das idéias e do formalismo das leis?

Introdução a Filosofia Política





O QUE É POLÍTICA

Na vida diária, as pessoas se referem à política como a ação do Estado e da organização institucional. Assim, o termo é utilizado para descrever a atividade parlamentar de um determinado político eleito, a ação dos partidos políticos por ocasião de campanhas eleitorais ou, ainda, para se referir ao ato de votar e escolher representantes que exercerão mandato e decidirão em nome dos eleitores. A política apresenta-se como arte de governar.
Também se emprega o termo para expressar a multiplicidade de situações em que a política se manifesta: política económica, política sindical, política das igrejas. Nesse sentido, entende-se a política como a atuação de instituições ou de segmentos da sociedade civil com a finalidade de alcançar determinados objetivos.
No entanto, ao contrário do que possa parecer, a política não diz respeito apenas aos políticos, mas a todos os cidadãos. Se considerarmos que a palavra política origina-se do grego polis (que significa "cidade") podemos compreender a sua amplitude. A polis caracterizava-se como uma unidade de vida social e política autônoma, da qual os cidadãos gregos participavam ativamente, decidindo sobre os destinos da cidade.


Política e Poder

O PODER: Para que a sociedade funcione, é necessário que os indivíduos se submetam a regulamentos, acatem valores e se conformem a uma determinada situação. As normas, leis, disciplinas às quais precisamos nos submeter para conviver na sociedade implicam relações de poder.
O poder, portanto, não se limita à organização do Estado, mas está presente em todas as relações sociais. Assim, na família, somos geralmente orientados pela afetividade e pela autoridade dos pais; na escola, pela dedicação e pela autoridade dos professores, que ensinam e decidem sobre o nosso saber por meio de avaliações; no trabalho, os empregados se submetem a disciplina, horários e técnicas para manter ou aumentar a produtividade na sua unidade de trabalho; no hospital, os médicos decidem sobre o que é melhor para a nossa saúde; no trânsito, precisamos respeitar os sinais convencionais, para garantir a nossa vida e a dos outros; nas igrejas, os padres e pastores orientam a vida dos fiéis; no mercado, precisamos de dinheiro para comprar o que desejamos. Enfim, todas as situações que vivemos envolvem relações de poder que engendram e mantêm a ordem social.
O poder consiste num conjunto de relações de força que indivíduos ou grupos sociais estabelecem entre si a partir de sua situação na sociedade. Quando falamos em "força", pensamos imediatamente na violência física, na imposição de uma vontade, no constrangimento. Mas nem sempre é assim. Aqui nos referimos à força como a capacidade de estimular ou inibir ações, não pela coerção ostensiva, mas sim pelo lento processo de formação de nosso comportamento e da assimilação de valores ao longo da vida. Nossos pais, nossos, professores e pessoas que amamos no influenciam e orientam por meio dos vínculos afetivos que mantemos com eles. Trata-se de uma forma sutil de coerção e, por isso, mais eficaz e duradoura. Essa força consiste na autoridade e disciplina a que somos submetidos na família, na escola, nas igrejas, na sociedade em geral.
As relações de poder estabelecidas em nosso cotidiano fazem parte do contexto amplo da organização social e política moderna, em que a acumulação e a concentração de riquezas, que são a base da produção capitalista, geram relações sociais e políticas desiguais e excludentes. A vida organiza-se conforme uma hierarquia social em que alguns indivíduos ou grupos sociais estão em posição superior e podem influir na vida e na atividade de outros indivíduos ou grupos sociais em posição inferior. Enfim, há grupos que dominam, ordenam, dirigem, e outros que são dominados, obedientes, dirigidos. Nesse contexto, poder significa dominação exercida pelo Estado e que se estende à todas as relações sociais.


A POLÍTICA E O COTIDIANO

Se a política faz parte de nossa vida, estando presente em todas as relações sociais, por que essa forma de vivência não é consciente em nosso cotidiano? Por que a participação política do indivíduo é tão limitada?
Podemos entender, em parte, essas questões, ao considerar as condições modernas da política. Em geral, a forma de governo dos Estados modernos é a democracia representativa, caracterizada pela constituição de poderes autônomos entre si (Executivo, Legislativo e Judiciário), organizados com base na ordem jurídica instituída (Constituição, leis, etc.), pela existência do voto secreto e universal e pela ação dos partidos políticos, que expressam a diversidade de pontos de vista sociais.
Nesse contexto, a participação política dos indivíduos parece limitar- se à escolha dos representantes para os cargos eletivos entre os candidatos de vários partidos. A ação política parece concentrar-se no Estado, na estrutura institucional e na atividade dos políticos eleitos pela sociedade. Estes quer o enunciem claramente ou não, representam os interesses de grupos sociais: há políticos que se empenham na defesa dos direitos civis, na ampliação dos espaços de participação política e no respeito à coisa pública, agindo com dedicação e transparência. Mas há também políticos que se dedicam aos favorecimentos, confundindo o espaço público com o privado, ao utilizar-se do poder que lhes foi delegado para beneficiar grupos particulares.
Os indivíduos, membros da sociedade civil, têm sua vida afetada por decisões políticas tomadas pelo poder institucional, que elabora as leis que regulam a sociedade. Daí a importância de conhecermos o processo político e dele participarmos, pois todas as decisões de nossos representantes no Parlamento nos atingem direta ou indiretamente.
Vejamos alguns exemplos de como as decisões políticas nos afetam de modo direto ou indireto: as relações de trabalho são regulamentadas por uma legislação elaborada e sancionada por nossos representantes políticos;nela se estabelecem os direitos e deveres do empregador e do empregado.
Nosso acesso aos benefícios sociais, como saúde e educação, também é prescrito por leis e ações advindas do Congresso Nacional. Se nos dispomos a reivindicar nossos direitos por meio de uma greve, podemos sofrer repressão policial. Em momentos de crise econômica e recessão, muitos trabalhadores perdem seus empregos e procuram sobreviver como vendedores, lavadores de carros e outras formas de subemprego; seus filhos precisam abandonar a escola para auxiliar no orçamento da família e acabam vendendo objetos nos semáforos.
Se observarmos um pouco mais a realidade brasileira, veremos que ocorre uma intensa concentração de renda nas mãos de uma pequena parcela da população, enquanto uma multidão se encontra nos limites da miséria. Há falta de escolas públicas, hospitais e moradias. Muitos camponeses lutam por uma distribuição equitativa da terra, que lhes dê condições de viver de seu trabalho com dignidade. As mulheres ainda são discriminadas profissionalmente. Presos comuns são massacrados em penitenciárias. Existem problemas de saneamento urbano, transporte, poluição. Enfim, a lista parece infindável.
Todos esses problemas nos dizem respeito e somos responsáveis por eles, pois participamos da vida da sociedade e dos conflitos que nela ocorrem. Muitas vezes, porém, não temos consciência disso, não percebemos como nossas escolhas individuais podem contribuir para consolidar uma situação instituída ou para esclarecer as contradições sociais. Nossa visão de mundo fragmentada reflete os valores de um sistema econômico que se alimenta da exploração do trabalho e funciona com base na troca, mercado, dinheiro, lucro. Esses valores se manifestam em relações sociais em que prevalecem a competição, a concorrência e a hostilidade entre os indivíduos.
Na sociedade civil, os meios de comunicação de massa, a escola, as igrejas, as empresas e a família veiculam uma interpretação parcial da realidade, em que o individuo, isolado, é responsabilizado pela situação em que se encontra, como se ela dependesse apenas de sua vontade, de suas características individuais (esforço, preguiça, perseverança, etc.) As explicações não se baseiam nas desigualdades sociais e políticas sociais que caracterizam a estrutura social.


A INDIFERENÇA POLÍTICA

O desinteresse da maioria dos indivíduos pelos assuntos públicos é um dos grandes problemas políticos a enfrentar nas sociedades modernas. Além dos que não participam por desconhecer o seu papel no processo político, há os indiferentes conscientes, os que compreendem a situação mas não tomam partido, encarando a vida política com ceticismo. Em ambos os casos, a indiferença e a consequente passividade desempenham um papel desagregador na política. Os indivíduos cuidam de suas atividades pessoais e deixam as decisões políticas nas mãos de pequenos grupos que, movidos por ambições e paixões particulares, traçam os destinos de um povo.
Da indiferença dos indivíduos podem nascer as políticas autoritárias, a corrupção e demais formas de desmandos. A falta de transparência na política, a concentração do poder nas mãos de profissionais da política, bem como ausência de controle e de cobrança da sua atuação, ocorrem, em grande parte, porque muitos se omitem, tornam-se apáticos, renunciam à possibilidade de criar alternativas de intervir na política. Quando os males acontecem, os indiferentes eximem-se da responsabilidade, porque não participaram ativamente da construção dos fatos. Esquecem-se de que a ausência e a omissão também são formas de participação.

A CIDADANIA

Na sociedade moderna, nascida das transformações que culminaram na Revolução Francesa, o indivíduo é visto como homem (pessoa privada) e como cidadão (pessoa pública). O termo cidadão designava originalmente o habitante da cidade. Com a consolidação da sociedade burguesa, passa a indicar a ação política e a participação do sujeito na vida da sociedade.
Cidadão é o indivíduo que possuem direitos e deveres para com a coletividade da qual participa — existem interesses comuns que o cidadão precisa respeitar e defender por meio da atuação na vida pública. A desigualdade social não permite a efetivação das liberdades constitutivas da sociedade civil, entre elas a liberdade política de participação nos assuntos públicos, que não se realiza para todos os membros da sociedade. Nesse sentido, a República brasileira, em mais de um século de existência, ainda não conseguiu realizar uma política democrática. Os princípios básicos das democracias modernas, como o direito de todos os indivíduos à liberdade de pensamento, associação, credo, locomoção, manifestação da opinião por intermédio da imprensa e da propaganda, são garantidos por lei. Tais princípios, são a base necessária para a participarão do cidadão na sociedade capitalista. Porém, o acesso a esses mecanismos é restrito.
Vejamos um exemplo: o domicílio de qualquer cidadão é inviolável e o direito à proteção é garantido por lei. No entanto, é frequente vermos na televisão os barracos das favelas serem invadidos pela polícia sem qualquer consideração. Tais ações demonstram como os favelados, relegados a uma situação de pobreza, são alvos de arbitrariedades em nome do Estado, sofrem discriminação social e, na prática, se vêem destituídos de sua cidadania.
O desemprego, a miséria, o analfabetismo, as diversas formas de violência que afetam a vida de grande parte da população brasileira impedem o exercício efetivo da cidadania. A discriminação se amplia quando se trata de enfrentar nossas diferenças raciais e culturais: mesmo constituindo parcela relevante da população, são poucos os negros que frequentam as universidades ou exercem funções empresariais e administrativas. Os índios, com suas tradições e riquezas culturais, têm sido dramaticamente discriminados e dizimados ao longo de nossa história. Enfrentar o grande desafio de assegurar e ampliar o exercício da cidadania em nosso país implica questionar o caráter excludente de nosso modelo económico e, ao mesmo tempo, efetivar e aprimorar a democracia. Necessitamos de uma política democrática que viabilize mudanças econômicas para resolver os nossos graves problemas sociais, reconhecer e defender os direitos de todos os cidadãos e garantir o pluralismo e os direitos das minorias. É preciso criar espaços de manifetação na sociedade civil. onde os interesses comuns possam ser defendidos e os indivíduos possam tomar consciência do papel que desempenham na sociedade.


 PARTICIPAÇÃO POLÍTICA


O caminho para discutir e propor uma nova direção à sociedade passa pela vida de cada um de nós, pela nossa participação na organização de movimentos sociais que defendam com afinco direitos da comunidade. Existe um grande número desses movimentos reivindicatórios, como movimentos estudantis, comunidades de base, movimentos de luta pela moradia, movimentos de luta contra o desemprego, movimentos dos sem-terra. Todos têm um significado político, pois defendem interesses coletivos que implicam mudanças sociais efetivas.
Esses movimentos, nascidos da necessidade de resolver problemas cotidianos não enfrentados pelas instituições públicas responsáveis, são de vital importância para a conquista da cidadania. Organizados a partir da vontade e determinação de indivíduos e grupos sociais em defesa de seus direitos, rompem os limites estreitos oferecidos pelo Estado à participação do cidadão e redefinem a política, mostrando-a como atividade dinâmica de ação efetiva. Da discussão de problemas imediatos, esses movimentos avançam para a compreensão do conjunto de relações em que certo problema está inserido, descobrem sua capacidade de inventar e criar soluções e, muitas vezes, percebem a necessidade de transformações radicais. À medida que se organizam internamente, esses grupos constroem a vida coletiva, a comunidade, e conseguem externar sua força de reivindicação.
As possibilidades de mudanças são maiores quando a sociedade civil se organiza e participa ativamente da política. Nesse processo, os indivíduos se renovam, amadurecem e compreendem que a cidadania que se conquista é limitada; é a cidadania possível dentro dos limites de uma sociedade dividida.

(Textos de CORDI, CASSIANO. Para Filosofar. São Paulo, Scipione, 1997.).

Atividades de Casa


Atividade de Casa nº 1 - 4º Bimestre (2º ano - todas as sedes)

Ler o Capítulo 07: Filosofia Política, p. 21
Responder as questões 01, 02 e 04 desse  capitulo e substituir a 03 por: 

¢  03. O conceito pejorativo de política identificado a "politicagem" muitas vezes se deve a não separação entre o público e o privado. Justifique. 

Atividade de Casa nº 2 - 4º Bimestre (2º ano - Sede Osório e Centro/tarde)

01. Diferencie;
a) poder político, poder econômico e poder ideológico.
b) concepção de estado segundo a corrente liberal de concepção de Estado segundo a corrente marxista.


Atividade de Casa nº 3 - 4º Bimestre (2º ano - todas as sedes) 

Ler o Capítulo 08 na p. 24.
Responder as questões desse capítulo na p. 26 
Pesquisar as diferenças entre:
a)      Democracia e as demais formas de governo
b)      Democracia e Ditadura 

Trabalho de NTD - 4º Bimestre



Em equipe de 05 pessoas.
Escrito à mão. (Trabalhos digitados ou enviados por e-mail não serão aceitos. Cada integrante da equipe deverá escreve no mínimo uma página e será conferida a letra de acordo com a assinatura legível dos integrantes na capa segundo a ordem em que escreveram. Em caso de descumprimento das regras ou trabalhos sem assinatura ou com letras incompatíveis: Nota zero)
Trabalhos (Conforme modelo já explicado na 3ª Etapa): Introdução (apresentação do trabalho, da escolha do tema e da dinâmica utilizada pelo grupo para realização do trabalho), Desenvolvimento (Escrito a partir da pesquisa feito pelos estudantes de acordo com cada tema), Conclusão ou considerações finais e Bibliografia.  
Temas para escolha (relação de filosofia política com um dos conteúdos abordados nas etapas anteriores. O tema deverá ser dialogado com pelos menos um dos autores da tradição filosófica):  Filosofia Política e Alienação / Filosofia Política e Ética/ Filosofia Política e Cultura/ Filosofia Política e Poder/ Fundamentação do Poder Político.
Trabalho que forem PURA repetição de textos da internet serão invalidados. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Nos Caminhos com Maiakóvski


UM DOS POEMAS  MAIS LINDO QUE SUPOSTAMENTE FOI ATRIBUÍDOS A VLADIMIR MAIAKÓVSKI:



 DESPERTAR É PRECISO

Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma flor do nosso jardim e não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.

Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.




Abaixo o poema completo de Eduardo Alves da Costa:



No Caminho, com Maiakóvski



Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!



Escrito por Eduardo Alves da Costa

Bertold Brecht

                        
                      Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo.

Mecânica Quântica e Determinismo



 Aqui  estão algumas dicas acerca de um tema que considero interessantíssimo: 


Determinismo Causal
Mecânica quântica e determinismo
Determinismo, Caos e Mecânica quântica

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ética


Na linguagem comum e mesmo na culta, ética e moral são sinônimas. Identificamos a ética com a moral pelo fato de terem as mesmas origens etimológicas, mas a ética distingue-se da moral. Podemos afirmar, portanto, que a Ética e a moral não possuem o mesmo significado:
-          Ética é a reflexão sobre a ação humana para extrair dela o conjunto de ações julgadas excelentes em relação ao o que se considera ser o "bem", o que a transfere para um valor pessoal.
-          Moral são hábitos ou costumes efetivamente vivenciados por um grupo ou comunidade humana.
  A Ética pode ser compreendida como uma reflexão acerca da moral vigente.
A Ética é a disciplina crítico-normativa que estuda as normas do comportamento humano, mediante as quais o homem tende a realizar na prática atos identificados com o bem.
A ética é resultado de uma construção coletiva inconsciente, que estabelece o que é considerado aceitável nas relações entre o ser humano e seus contemporâneos, na preservação de sua história e na interação com as futuras gerações.
A Ética define regras gerais de comportamento para garantir paz nas interações que estabelecemos com os habitantes da comunidade em que vivemos, seja ela um lugarejo ou todo o Planeta. Envolve, também, uma preocupação com o futuro, garantindo-se que não estragaremos as condições de vida dos que virão depois de nós
Interiorização do Dever
Apesar de produto de uma evolução coletiva, a ética é e deve ser, sobretudo, algo internalizado. É um compromisso pessoal com o que se acredita correto. Ela envolve a noção de que somos responsáveis pelo nosso crescimento pessoal (autodesenvolvimento) e, simultaneamente, a incorporação da percepção do outro na conduta cotidiana.
A Ética traz consigo a presença de um juiz interior muito mais poderoso e competente que fiscais ou investigadores, que surge de um projeto de autonomia e liberdade do ser humano: a nossa consciência moral.
Cada pessoa responde sozinha pelo que faz, diante de sua própria consciência moral. Contudo o ato moral nunca é solitário e sim solidário, porque traz a exigência do respeito e do compromisso com os outros. Daí a imoralidade de todo preconceito.

Ética e Autonomia
A visão de ética quando centrada na autonomia do ser humano, resgata a noção de que somos responsáveis por nossas vidas e por suas consequências no entorno: 
“A vida que a gente quer depende do que a gente faz” (Max Feffer).
Não existe possibilidade de ética se as pessoas se percebem como não-autônomas e, portanto, não-responsáveis por seus atos e omissões. A base de uma interação social saudável é a existência de redes de pessoas livres – não só para construir suas vidas com dignidade, como para responder por suas escolhas.

Ética e Política
Ética e Política não podem ser dissociadas.  A Ética não pode e nem deve ser excluída do universo político. Diante de tantos descasos políticos,  a ética não pode deixar de refletir sobre os elementos políticos.
 Preocupação Ética Atual
O esforço de recuperação da ética passa pela necessidade de não se esquecer da dimensão planetária da sociedade contemporânea, quando todos os pontos da Terra, essa "aldeia global", se acham ligados pelos meios de comunicação de massa e pelos mais velozes transportes.
A preocupação ética atual precisa considerar a moral além dos limites restritos dos pequenos grupos, como a família, o bairro, a cidade, a pátria. A generosidade da moral planetária supõe a garantia da pluralidade dos estilos de vida, a aceitação das diferenças, sem que se sucumba à tentação de dominar o outro por considerar a diferença um sinal de inferioridade.

Conferência Sobre Ética


  
LUDWIG WITTGENSTEIN

Antes de começar a falar sobre meu tema, permitam-me fazer algumas observações introdutórias. Tenho consciência de que terei grandes dificuldades para comunicar meu pensamentos e penso que algumas delas diminuiriam se as mencionasse de antemão. A primeira, que quase não necessito apontar, é que o inglês não é minha língua materna. Por esta razão, meu modo de expressão não possui aquela elegância e precisão que seria desejável para quem fala sobre um tema difícil. Tudo o que posso fazer é pedir que me facilitem a tarefa tentando entender o que quero dizer, apesar das faltas que contra a gramática inglesa vou cometer continuamente. A segunda dificuldade que mencionarei é que, provavelmente, muitos de vocês vieram a esta minha conferência com falsas expectativas. Para esclarecer este ponto, direi algumas palavras sobre a razão pela qual escolhi este tema. Quando o secretário anterior honrou-me pedindo que lesse uma comunicação para esta sociedade, minha primeira idéia foi a de que deveria certamente aceitar e a segunda foi que, se tivesse a oportunidade de falar a vocês, deveria falar sobre algo que me interessava comunicar e que não deveria desperdiçá-la dando, por exemplo, uma conferência sobre lógica. Considero que isto seria perder tempo, visto que explicar um tema científico a vocês exigiria um curso de conferências e não uma comunicação de uma hora. Outra alternativa teria sido apresentar uma conferência que se denomina de divulgação científica, isto é, uma conferência que pretendesse fazer vocês acreditarem que entendem algo que realmente não entendem e satisfazer assim o que considero um dos mais baixos desejos do homem moderno, a saber, a curiosidade superficial sobre as últimas descobertas da ciência. Rejeitei estas alternativas e decidi falar sobre um tema, em minha opinião, de importância geral, com a esperança de que ele ajude a esclarecer suas próprias idéias a respeito (mesmo que vocês estejam em total desacordo com o que vou dizer). Minha terceira e última dificuldade é, de fato, própria de quase todas as conferências filosóficas: o ouvinte é incapaz de ver tanto o caminho pelo qual o levam como também o fim a que este conduz. Isto é, ele pensa: "Entendo tudo o que diz, mas aonde quer chegar?" ou então "Vejo para onde se encaminha, mas como vai chegar ali?" Mais uma vez: tudo o que posso fazer é pedir que sejam pacientes e esperar que, no final, vejam não só o caminho como também onde ele leva.
Vou iniciar agora. Meu tema, como sabem, é a Ética e adotarei a explicação que deste termo deu o professor Moore em seu livro Principia Ethica. Ele diz: "A Ética é a investigação geral sobre o que é bom." Agora, vou usar a palavra Ética num sentido um pouco mais amplo, um sentido, na verdade, que inclui a parte mais genuína, em meu entender, do que geralmente se denomina Estética. E para que vejam da forma mais clara possível o que considero o objeto da Ética vou apresentar antes várias expressões mais ou menos sinônimas, cada uma das quais poderia substituir a definição anterior e ao enumerá-las pretendo obter o mesmo tipo de efeito que Galton obteve quando colocou na mesma placa várias fotografias de diferentes rostos com o fim de obter a imagem dos traços típicos que todos eles compartilhavam. Mostrando esta fotografia coletiva, poderei fazer ver qual é o típico - digamos - rosto chinês. Deste modo, se vocês olharem através da série de sinônimos que vou apresentar, serão capazes de, espero, ver os traços característicos que todos têm em comum e que são característicos da Ética. Ao invés de dizer que "a Ética é a investigação sobre o que é bom", poderia ter dito que a Ética é a investigação sobre o valioso, ou sobre o que realmente importa, ou ainda, poderia ter dito que a Ética é a investigação sobre o significado da vida, ou daquilo que faz com que a vida mereça ser vivida, ou sobre a maneira correta de viver. Creio que se observarem todas estas frases, então terão uma idéia aproximada do que se ocupa a Ética. A primeira coisa que nos chama a atenção nestas expressões é que cada uma delas é usada, realmente, em dois sentidos muito distintos. Vou denominá-los, por um lado, o sentido trivial ou relativo, e por outro, o sentido ético ou absoluto. Por exemplo, se digo que esta é uma boa poltrona, isto significa que esta poltrona serve para um propósito predeterminado e a palavra bom aqui tem somente significado na medida em que tal propósito tenha sido previamente fixado. De fato, a palavra bom no sentido relativo significa simplesmente que satisfaz um certo padrão predeterminado. Assim, quando afirmamos que este homem é um bom pianista, queremos dizer que pode tocar peças de um certo grau de dificuldade com um certo grau de habilidade. Igualmente, se afirmo que para mim é importante não resfriar-me quero dizer que apanhar um resfriado produz em minha vida certos transtornos descritíveis e se digo que esta é a estrada correta significa que é a estrada correta em relação a uma certa meta. Usadas desta forma, tais expressões não apresentam problemas difíceis ou profundos. Mas isto não é o uso que delas faz a Ética. Suponhamos que eu soubesse jogar tênis e alguém de vocês, ao ver-me, tivesse dito "Você joga bastante mal" e eu tivesse contestado "Sei que estou jogando mal, mas não quero fazê-lo melhor", tudo o que poderia dizer meu interlocutor seria "Ah, então tudo bem.". Mas suponhamos que eu tivesse contado a um de vocês uma mentira escandalosa e ele viesse e me dissesse "Você se comporta como um animal" e eu tivesse contestado "Sei que minha conduta é má, mas não quero comportar-me melhor", poderia ele dizer "Ah, então, tudo bem"? Certamente, não. Ele afirmaria "Bem, você deve desejar comportar-se melhor". Aqui temos um juízo de valor absoluto, enquanto que no primeiro caso era um juízo relativo. A essência desta diferença parece obviamente esta: cada juízo de valor relativo é um mero enunciado de fatos e, portanto, pode ser expresso de tal forma que perca toda a aparência de juízo de valor. Ao invés de dizer "Esta é a estrada correta para Granchester", eu poderia perfeitamente dizer "Esta é a estrada correta que deves tomar se queres chegar a Granchester no menor tempo possível". "Este homem é um bom corredor" significa simplesmente que corre um certo número de quilômetros num certo número de minutos, etc.. O que agora desejo sustentar é que, apesar de que se possa mostrar que todos os juízos de valor relativos são meros enunciados de fatos, nenhum enunciado de fato pode ser nem implicar um juízo de valor absoluto. Permitam-me explicar: suponham que alguém de vocês fosse uma pessoa onisciente e, por conseguinte, conhecesse todos os movimentos de todos os corpos animados ou inanimados do mundo e conhecesse também os estados mentais de todos os seres que tenham vivido. Suponham, além disso, que este homem escrevesse tudo o que sabe num grande livro. Então tal livro conteria a descrição total do mundo. O que quero dizer é que este livro não incluiria nada do que pudéssemos chamar juízo ético nem nada que pudesse implicar logicamente tal juízo. Conteria, certamente, todos os juízos de valor relativo e todas as proposições científicas verdadeiras que se pode formar. Mas, tanto todos os fatos descritos como todas as proposições estariam, digamos, no mesmo nível. Não há proposições que, em qualquer sentido absoluto, sejam sublimes, importantes ou triviais. Talvez agora alguém de vocês esteja de acordo e invoque as palavras de Hamlet: "Nada é bom ou mau, mas é o pensamento que o faz assim." Mas isto poderia levar novamente a um mal-entendido. O que Hamlet diz parece implicar que o bom ou o mau, embora não sejam qualidades do mundo externo a nós, são atributos de nossos estados mentais. Mas o que quero dizer é que um estado mental entendido como um fato descritível não é bom ou mau no sentido ético. Por exemplo, em nosso livro do mundo lemos a descrição de um assassinato com todos os detalhes físicos e psicológicos e a mera descrição nada conterá que possamos chamar uma proposição ética. O assassinato estará exatamente no mesmo nível que qualquer outro acontecimento como, por exemplo, a queda de uma pedra. Certamente, a leitura desta descrição pode causar-nos dor ou raiva ou qualquer outra emoção ou poderíamos ler acerca da dor ou da raiva que este assassinato suscitou em outras pessoas que tiveram conhecimento dele, mas seriam simplesmente fatos, fatos e fatos e não Ética. Devo dizer agora que, se considerasse o que a Ética deveria ser realmente - se existisse uma tal ciência -, este resultado parece-me bastante óbvio. Parece-me evidente que nada do que somos capazes de pensar ou de dizer pode constituir-se o objeto. Que não podemos escrever um livro científico cujo tema venha a ser intrinsecamente sublime e superior a todos os demais. Somente posso descrever meu sentimento a este respeito mediante a seguinte metáfora: se um homem pudesse escrever um livro de Ética que realmente fosse um livro de Ética, este livro destruiria, com uma explosão, todos os demais livros do mundo. Nossas palavras, usadas tal como o fazemos na ciência, são recipientes capazes somente de conter e transmitir significado e sentido naturais. A Ética, se ela é algo, é sobrenatural e nossas palavras somente expressam fatos, do mesmo modo que uma taça de chá somente pode conter um volume determinado de água, por mais que se despeje um litro nela. Disse que com relação a fatos e proposições há somente valor relativo e acerto e bem relativos. Permitam-me, antes de prosseguir, ilustrar isto com um exemplo ainda mais óbvio. A estrada correta é aquela que conduz a um fim predeterminado arbitrariamente e a todos nós parece totalmente claro que não há sentido em falar da estrada correta independentemente de tal alvo predeterminado. Vejamos agora o que possivelmente queremos dizer com a expressão "a estrada absolutamente correta". Creio que seria aquela que, ao vê-la, todo o mundodeveria tomar com necessidade lógica ou envergonhar-se de não fazê-lo. Do mesmo modo, o bom absoluto, se é um estado de coisas descritível, seria aquele que todo o mundo, independentemente de seus gostos e inclinações, realizaria necessariamente ou se sentiria culpado de não fazê-lo. Quero dizer que tal estado de coisas é uma quimera. Nenhum estado de coisas tem, em si, o que gostaria de denominar o poder coercitivo de um juiz absoluto. Então, o que temos em mente e o que tentamos expressar quando sentimos a tentação de usar expressões como "bom absoluto", "valor absoluto", etc.? Sempre que tento esclarecer isto para mim é natural que recorra a casos nos quais, sem dúvida, usaria tais expressões, de modo que me encontro na mesma situação que vocês estariam se, por exemplo, eu desse uma conferência sobre a psicologia do prazer. Neste caso, o que vocês fariam seria tentar invocar algumas situações típicas nas quais sempre sentiram prazer, pois com esta situação na mente, chegaria a se tornar concreto e, por assim dizer, controlável, tudo o que eu pudesse dizer a vocês. Alguém poderia escolher como um exemplo típico a sensação de passear num dia ensolarado de verão. Quando trato de concentrar-me no que entendo por valor absoluto ou ético, encontro-me numa situação semelhante. Em meu caso, ocorre-me sempre que a idéia de uma particular experiência se apresenta como se fosse, em certo sentido, e de fato é, minha experiência par excellence e por esta razão, ao dirigir-me agora a vocês, usarei esta experiência como meu primeiro e principal exemplo (como já disse, isto é uma questão totalmente pessoal e outros poderiam dar outros exemplos mais chamativos). Na medida do possível, vou descrever esta experiência de maneira que faça vocês invocarem experiências idênticas ou similares a fim de poder dispor de uma base comum para nossa investigação. Creio que a melhor forma de descrevê-la é dizer que, quando eu a tenho, assombro-me ante a existência do mundo. Sinto-me então inclinado a usar frases tais como "Que extraordinário que as coisas existam" ou "Que extraordinário que o mundo exista". Mencionarei, em continuação, outra experiência que conheço e que a alguns de vocês parecerá familiar: trata-se do que poderíamos chamar a experiência de sentir-se absolutamente seguro. Refiro-me a aquele estado anímico em que nos sentimos inclinados a dizer: "Aconteça o que acontecer, estou seguro, nada pode prejudicar-me". Permitam-me agora considerar estas experiências visto que, segundo creio, mostram as verdadeiras características que tentamos esclarecer. E aqui está o que primeiro tenho a dizer: a expressão verbal que damos a estas experiências carece de sentido. Se afirmo "Assombro-me ante a existência do mundo", estou usando mal a linguagem. Deixem-me explicar isso. Tem perfeito e claro sentido dizer que me assombra que algo seja como é. Todos entendemos o que significa que me assombre o tamanho de um cachorro que é maior do que qualquer outro visto antes ou de qualquer coisa que, no sentido ordinário do termo, seja extraordinária. Em todos os casos deste tipo, assombro-me de que algo seja como é, quando eu poderia conceber que não fosse assim. Assombro-me do tamanho deste cachorro porque poderia conceber um cachorro de outro tamanho, isto é, de tamanho normal, do qual não me assombraria. Dizer "Assombro-me de que tal ou tal coisa seja como é" somente tem sentido se posso imaginá-la não sendo como é. Assim, alguém pode assombrar-se, por exemplo, da existência de uma casa quando a vê depois de muito tempo que não a via e tinha imaginado que ela tinha sido demolida neste intervalo. Mas carece de sentido dizer que me assombro da existência do mundo porque não posso imaginá-lo como não existindo. Certamente, poderia assombrar-me de que o mundo que me rodeia seja como é. Se, por exemplo, enquanto olho o céu azul eu tivesse esta experiência, poderia assombrar-me de que o céu seja azul em oposição ao caso de estar nublado. Mas não é isto que quero dizer. Assombro-me do céu seja lá o que ele for. Poderíamos nos sentir inclinados a dizer que estou me assombrando de uma tautologia, isto é, de que o céu seja ou não azul. Mas precisamente não tem sentido afirmar que alguém está se assombrando de uma tautologia. Isto pode aplicar-se à outra experiência mencionada: a experiência da segurança absoluta. Todos sabemos o que significa na vida cotidiana estar seguro. Sinto-me seguro em minha sala, já que não pode atropelar-me um ônibus. Sinto-me seguro se já tive a coqueluche e, portanto, já não poderei tê-la novamente. Sentir-se seguro significa, essencialmente, que é fisicamente impossível que certas coisas possam ocorrer-me e, por conseguinte, carece de sentido dizer que me sinto seguro aconteça o que acontecer. Mais uma vez, trata-se de um mau uso da palavra "seguro", do mesmo modo que o outro exemplo era um mau uso da palavra "existência" ou "assombrar-se". Quero agora convencer vocês que um característico mau uso de nossa linguagem subjaz a todas as expressões éticas e religiosas. Todas elas parecem, prima facie, ser somente símiles. Assim, parece que quando usamos, em sentido ético, a palavra correto, embora o que queremos dizer não seja correto no seu sentido trivial, é algo similar. Quando dizemos: "É uma boa pessoa", embora a palavra boa aqui não signifique o mesmo que na frase "Este é um bom jogador de futebol" parece haver alguma similaridade. E quando dizemos "A vida deste homem era valiosa", não o entendemos no mesmo sentido que se falássemos de alguma jóia valiosa, mas parece haver algum tipo de analogia. Deste modo, todos os termos religiosos parecem ser usados como símiles ou alegorias. Quando falamos de Deus e de que ele tudo vê e quando nos ajoelhamos e oramos, todos os nossos termos e ações parecem ser partes de uma grande e completa alegoria que o representa como um ser humano de enorme poder cuja graça tentamos cativar, etc., etc.. Mas esta alegoria descreve também a experiência que acabo de aludir. Porque a primeira delas é, segundo creio, exatamente aquilo a que as pessoas se referem quando dizem que Deus criou o mundo; e a experiência da segurança absoluta tem sido descrita dizendo que nos sentimos seguros nas mãos de Deus. Uma terceira vivência deste tipo é a de sentir-se culpado e pode ser descrita também pela frase: Deus condena nossa conduta. Desta forma parece que, na linguagem ética e religiosa, constantemente usamos símiles. Mas um símile deve ser símile de algo. E se posso descrever um fato mediante um símile, devo também ser capaz de abandoná-lo e descrever os fatos sem sua ajuda. Em nosso caso, logo que tentamos deixar de lado o símile e enunciar diretamente os fatos que estão atrás dele, deparamo-nos com a ausência de tais fatos. Assim, aquilo que, num primeiro momento, pareceu ser um símile, manifesta-se agora como um mero sem sentido. Talvez para aquele que - como eu, por exemplo - viveu as três experiências que mencionei (e podia acrescentar outras) elas parecem ter, em algum sentido, valor intrínseco e absoluto. Mas, desde o momento em que digo que são experiências, certamente, são também fatos: aconteceram num lugar e duraram certo tempo e, por conseguinte, são descritíveis. Em continuação ao que disse há poucos minutos, devo admitir que carece de sentido afirmar que têm valor absoluto. Precisarei minha argumentação dizendo: "é um paradoxo que uma experiência, um fato, pareça ter valor sobrenatural." Há uma via pela qual sinto-me tentado a solucionar este paradoxo. Permitam-me considerar, novamente, nossa primeira experiência de assombro diante da existência do mundo descrevendo-a de forma ligeiramente diferente. Todos sabemos o que na vida cotidiana poderia denominar-se um milagre. Obviamente é, simplesmente, um acontecimento de tal natureza que nunca tínhamos visto nada parecido com ele. Suponham que este acontecimento ocorreu. Pensem no caso de que em alguém de vocês cresça uma cabeça de leão e comece a rugir. Certamente isto seria uma das coisas mais extraordinárias que sou capaz de imaginar. Tão logo nos tivéssemos recomposto da surpresa, o que eu sugeriria seria buscar um médico e investigar cientificamente o caso e, se não pelo fato de que isto causaria sofrimento, mandaria fazer uma dissecação. Aonde estaria então o milagre? Está claro que, no momento em que olhamos as coisas assim, todo o milagroso haveria desaparecido; a menos que entendamos por este termo simplesmente um fato que ainda não tenha sido explicado pela ciência, coisa que significa por sua vez que não temos conseguido agrupar este fato junto com outros num sistema científico. Isto mostra que é absurdo dizer que "a ciência provou que não há milagres". A verdade é que o modo científico de ver um fato não é vê-lo como um milagre. Vocês podem imaginar o fato que puderem e isto não será em si milagroso no sentido absoluto do termo. Agora nos damos conta de que temos utilizado a palavra "milagre" tanto num sentido absoluto como num relativo. Agora, vou descrever a experiência de assombro diante da existência do mundo dizendo: é a experiência de ver o mundo como um milagre. Sinto-me inclinado a dizer que a expressão lingüística correta do milagre da existência do mundo - apesar de não ser uma proposição na linguagem - é a existência da própria linguagem. Mas, então, o que significa ter consciência deste milagre em certos momentos e não em outros? Tudo o que disse ao transladar a expressão do milagroso de uma expressão por meio da linguagem à expressão pela existência da linguagem é, mais uma vez, que não podemos expressar o que queremos expressar e que tudo o que dizemos sobre o absolutamente milagroso continua carecendo de sentido. Para muitos de vocês a resposta parecerá clara: bom, se certas experiências nos levam constantemente a atribuir-lhes uma qualidade que chamamos valor absoluto ou ético e importante, isto somente mostra que ao que nos referimos com tais palavras não é um sem sentido, que depois de tudo, o que significamos ao dizer que uma experiência tem valor absoluto é simplesmente um fato como qualquer outro e tudo se reduz a isto e que ainda não encontramos a análise lógica correta daquilo que queremos dizer com nossas expressões éticas e religiosas. Sempre que me salta isto aos olhos, de repente vejo com clareza, como se se tratasse de um lampejo, não somente que nenhuma descrição que possa imaginar seria apta para descrever o que entendo por valor absoluto, mas que rechaçaria ab initio qualquer descrição significativa que alguém pudesse possivelmente sugerir em razão de sua significação. Em outras palavras, vejo agora que estas expressões carentes de sentido não careciam de sentido por não ter ainda encontrado as expressões corretas, mas sua falta de sentido constituía sua própria essência. Isto porque a única coisa que eu pretendia com elas era, precisamente, ir além do mundo, o que é o mesmo que ir além da linguagem significativa. Toda minha tendência - e creio que a de todos aqueles que tentaram alguma vez escrever ou falar de Ética ou Religião - é correr contra os limites da linguagem. Esta corrida contra as paredes de nossa jaula é perfeita e absolutamente desesperançada. A Ética, na medida em que brota do desejo de dizer algo sobre o sentido último da vida, sobre o absolutamente bom, o absolutamente valioso, não pode ser uma ciência. O que ela diz nada acrescenta, em nenhum sentido, ao nosso conhecimento, mas é um testemunho de uma tendência do espírito humano que eu pessoalmente não posso senão respeitar profundamente e que por nada neste mundo ridicularizaria.

(A tradução dessa conferência foi feita por Darlei Dall'Agnol)

Reconhecimento do Amor



Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
sua espada coruscante, seu formidável
poder de penetrar o sangue e nele imprimir
uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria,
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso,
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazia para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
o Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
quando – por esperteza do amor – senti que éramos um só.

Carlos Drummond de Andrade

O Mito de Narciso




“Em tempos idos, na Grécia, o rio Cefiso engravidou a ninfa Liríope. Meses depois, Liríope, apesar de não desejar a gravidez, deu a luz a uma criança de beleza extraordinária. Por causa disso, Liríope consultou o adivinho Tirésias sobre o futuro de seu filho, e ele vaticinou (profetizou) que Narciso viveria, desde que nunca visse sua própria imagem.


Sob essa condição, ele cresceu e tornou-se um moço tão belo quanto o fora quando criança. Não havia quem não se apaixonasse por ele. Narciso, entretanto, permanecia indiferente.


Um dia, porém, estando sedento, Narciso aproximou-se das águas plácidas de um lago e, ao curvar-se para beber, viu uma imagem refletida no espelho das águas. Maravilhado com sua própria figura, apaixonou-se por si mesmo. Desesperadamente, passou a precisar do objetivo de seu amor, viu que não conseguiria mais viver sem aquele ser deslumbrante. Sua vida reduziu-se à contemplação daquele jovem tão belo: desejava-o, queria possuí-lo. Desvairado, inclinando-se cada vez mais ao encontro do ser amado, mergulhou nos braços frio da morte.
Às margens do lago, nasceu uma entorpecedora flor: o narciso. Ela relembra para sempre o destino trágico daquele que , aparentemente apaixonado por si mesmo, era, na verdade, incapaz de amar”.

Utopia e Paixão




"É dos mais neuróticos e parasitários o amor que leva uma pessoa a achar a outra um pedaço de si mesma. (...)

O saudável, nas relações amorosas, seria primeiro, que as pessoas já tivessem conseguido crescer até o tamanho total de si própria. Depois, aprendesse a viver por si mesma e de si mesma. Só então acasalasse com alguém que tivesse tido igual desenvolvimento e soubesse viver de si mesma também. Assim, inteiros e juntos, começariam a viver sensações inéditas, extraordinárias, impossíveis de se viver sozinho e que não existem em nós nem sequer em semente. É o amor suplementar de que falamos. Nesse ponto, é bom proclamar o que se constitui em nossa ética fundamental: o amor não deve servir para coisa alguma, a não ser apenas para se amar.

Quando, por uma razão qualquer, a relação amorosa se desfaz, o que se desfaz de fato é só a relação amorosa e não as vidas e a integridade de cada um. E o que se tem observado é que, por mais denso que tenha sido o amor, quando ele se desfaz nas relações sadias (suplementares), surgem logo novos encontros, novos namoros e seduções; o amor pode se refazer. É outro, original, porém com intensidade e qualidade semelhante ao anterior."

(Texto de Roberto Freire e de Fausto Brito)

Amizade




Um amigo é alguém com quem se está bem, mas um amigo é muito mais que isso, é alguém que pensa em ti quando não estás aqui, alguém que pede a Deus por ti, quando tens que fazer algo dificil. Nunca se está realmente só quando se tem um amigo.

Um amigo ouve o que tu dizes, e tenta compreender o que tu não sabes dizer. Mas um amigo não está sempre de acordo contigo, um amigo contradiz-te e obriga-te a pensar honestamente. Um amigo gosta de ti, mesmo que faças besteiras. Um amigo ensina-te a gostar de coisas novas, não teria imaginado estás coisas se estivesses sozinho.

Amigo é uma palavra bonita, é quase a melhor palavra!! Um amigo é alguém que tem sempre tempo para ti quando apareces.

Toda gente pode ter um amigo, mas não vivas tão apressado, que nem vejas que há alguém que quer ser teu amigo.

Um amigo é alguém que é para ti uma festa, alguém que pensa em ti e te ouve, e te ajuda a saber o que tu és. Alguém que está contigo, e não tem pressa. Alguém em quem tu podes acreditar! Quem é teu amigo?

( Texto de Leif Kristiansson)

A Arte de Amar




O homem é dotado de razão; é a vida consciente de si mesma; tem, consciência de si, de: seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades de seu futuro. Essa consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência de seu próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade, de ter de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua impotência ante as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunida uma prisão insuportável. Ele ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os homens, unir-se de uma forma ou de outra com eles, com o mundo exterior.

( Texto de Erich Fromm)

Trabalho Alienado



Para Marx, a alienação tem um sentido negativo em que o trabalho, ao invés de realizar o homem, pode o escravizar; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. O homem troca o verbo SER pelo TER: sua vida passa a medir-se pelo que ele possui, não pelo que ele é. Isso parece familiar? Pois é, vamos ver os detalhes.

O filósofo alemão concebeu diferentes formas de alienação, como a religião ou o Estado, em que o homem, longe de tornar-se livre, cada vez mais se aprisionaria. Mas uma alienação é básica, segundo Marx: a alienação econômica.

A alienação econômica pode ser descrita de duas formas: o trabalho como (a) atividade fragmentada e como (b) produto apropriado por outros.