Francis Bacon (1561-1626)
seguindo a tradição empirista inglesa que remonta a Roger Bacon (século XIII)
realça a significação histórica da ciência e do papel que ela poderia
desempenhar na vida da humanidade. Seu lema "saber é poder", mostra
como ele procura, bem no espírito da nova ciência, não um saber contemplativo e
desinteressado, que não tenha um fim em si, mas um saber instrumental, que
possibilite a dominação da natureza. Começa o ideal prometeico[1] da ciência. Daí o
interesse pelo método da ciência. Na obra Novum
Organum (no sentido de instrumento de
pensamento), Bacon critica a lógica aristotélica, opondo ao ideal dedutivista,
a eficiência da indução como método de descoberta.
Ele
inicia pela denúncia dos preconceitos e noções falsas que dificultam a
apreensão da realidade, aos quais chama de ídolo:
Os ídolos
da tribo "estão fundados na própria natureza humana, na própria tribo ou
espécie humana. (...) Todas as percepções, tanto dos sentidos como da mente,
guardam analogia com a natureza humana e não com o universo"[2]. Isso significa que muitos
dos nossos enganos derivam da tendência ao antropomorfismo.
Os ídolos
da caverna "são os dos homens enquanto indivíduos. Pois, cada um-além das
aberrações próprias da natureza em geral - tem uma caverna ou uma cova que
intercepta e corrompe a luz da natureza; seja devido à natureza própria
singular de cada um; seja devido à educação ou conversação com os outros".
Os ídolos
do foro são os provenientes, de certa forma, das relações estabelecidas entre
os homens devido ao comércio. "Com efeito, os homens se associam graças ao
discurso, e as palavras são cunhadas pelo vulgo. E as palavras, impostas de
maneira imprópria e inepta, bloqueiam espantosamente o intelecto. (...) E os homens
são, assim, arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias”.
Os ídolos
do teatro são os "ídolos que imigraram para o espírito dos homens por meio
das diversas doutrinas filosóficas e também pelas regras viciosas da demonstração.
(...) Ademais, não pensamos apenas nos sistemas filosóficos, na sua
universalidade, mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram
em vigor, mercê da tradição, da credulidade e da negligência".
Francis Bacon desenvolve um estudo pormenorizado
da indução a partir do caráter estéril do silogismo e insiste na necessidade da
experiência e da investigação segundo métodos precisos. Suas falhas estão em
não ter construído um sistema completo, e seus exemplos de indução são menos
exatos que método indutivo-dedutivo de Galileu. Além disso, a física de Bacon
permanece nas qualidades corporais, não recorrendo à matemática, mérito que
coube também, e, sobretudo, a Galileu.
( Texto adaptado de Filosofando. M. L. Aranha e Fundamentos de Filosofia. G. Coltrim).
[1] Prometeico: relativo a Prometeu figura
da mitologia grega que roubou o fogo dos deuses para dá-lo aos homens.
Simboliza o advento da técnica.
[2]
BACON, Francis. Novum Organum. São Paulo: Abril
Cultural, 1973, p. 27-29. (Col. Os pensadores).
Texto complementar:
I. Nosso método, contudo, é tão fácil de ser
apresentado quanto difícil de se aplicar. Consiste no estabelecer os graus de
certeza, determinar o alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte dos
casos, o labor da mente, calcado muito de perto sobre aqueles, abrindo e
promovendo, assim, a nova e certa via da mente, que, de resto, provém das
próprias percepções sensíveis.
II. A melhor demonstração é, de longe, a
experiência, desde que se atenha rigorosamente ao experimento.
(Texto
de Francis Bacon, Novurn Organum. São Paulo: Abril Cultural,
1973, pp. 11, 44. Col. Os pensadores)
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