domingo, 3 de fevereiro de 2013

Francis Bacon


Francis Bacon (1561-1626) seguindo a tradição empirista inglesa que remonta a Roger Bacon (século XIII) realça a significação histórica da ciência e do papel que ela poderia desempenhar na vida da humanidade. Seu lema "saber é poder", mostra como ele procura, bem no espírito da nova ciência, não um saber contemplativo e desinteressado, que não tenha um fim em si, mas um saber instrumental, que possibilite a dominação da natureza. Começa o ideal prometeico[1] da ciência. Daí o interesse pelo método da ciência. Na obra Novum Organum (no sentido de instrumento de pensamento), Bacon critica a lógica aristotélica, opondo ao ideal dedutivista, a eficiência da indução como método de descoberta.
Ele inicia pela denúncia dos preconceitos e noções falsas que dificultam a apreensão da realidade, aos quais chama de ídolo:
        Os ídolos da tribo "estão fundados na própria natureza humana, na própria tribo ou espécie humana. (...) Todas as percepções, tanto dos sentidos como da mente, guardam analogia com a natureza humana e não com o universo"[2]. Isso significa que muitos dos nossos enganos derivam da tendência ao antropomorfismo.
        Os ídolos da caverna "são os dos homens enquanto indivíduos. Pois, cada um-além das aberrações próprias da natureza em geral - tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza; seja devido à natureza própria singular de cada um; seja devido à educação ou conversação com os outros".
        Os ídolos do foro são os provenientes, de certa forma, das relações estabelecidas entre os homens devido ao comércio. "Com efeito, os homens se associam graças ao discurso, e as palavras são cunhadas pelo vulgo. E as palavras, impostas de maneira imprópria e inepta, bloqueiam espantosamente o intelecto. (...) E os homens são, assim, arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias”.
        Os ídolos do teatro são os "ídolos que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas e também pelas regras viciosas da demonstração. (...) Ademais, não pensamos apenas nos sistemas filosóficos, na sua universalidade, mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em vigor, mercê da tradição, da credulidade e da negligência".
        Francis Bacon desenvolve um estudo pormenorizado da indução a partir do caráter estéril do silogismo e insiste na necessidade da experiência e da investigação segundo métodos precisos. Suas falhas estão em não ter construído um sistema completo, e seus exemplos de indução são menos exatos que método indutivo-dedutivo de Galileu. Além disso, a física de Bacon permanece nas qualidades corporais, não recorrendo à matemática, mérito que coube também, e, sobretudo, a Galileu.

( Texto adaptado de Filosofando. M. L. Aranha e Fundamentos de Filosofia. G. Coltrim).



[1] Prometeico: relativo a Prometeu figura da mitologia grega que roubou o fogo dos deuses para dá-lo aos homens. Simboliza o advento da técnica.
[2] BACON, Francis. Novum Organum. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 27-29. (Col. Os pensadores).

Texto complementar:


I.    Nosso método, contudo, é tão fácil de ser apresentado quanto difícil de se aplicar. Consiste no estabelecer os graus de certeza, determinar o alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente, calcado muito de perto sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova e certa via da mente, que, de resto, provém das próprias percepções sensíveis.
II.    A melhor demonstração é, de longe, a experiência, desde que se atenha rigorosamente ao experimento.
(Texto de Francis Bacon, Novurn Organum. São Paulo: Abril Cultural, 1973, pp. 11, 44. Col. Os pensadores)

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